Busca

Vítima de feminicídio relatou terror e ter sido maltratada na Delegacia da Mulher

Mensagens em grupo de WhatsApp mostram que Aline foi à Delegacia da Mulher prestar queixa de quebra de medida protetiva pelo ex-namorado, que ateou fogo em sua moto em 24 de maio, mas foi tratada com descaso

João Maurício da Rosa (Portal Porque)

Mensagens foram enviadas em grupo de psicólogas e para colega que tentou ajudar. Imagem: Divulgação/Arte Porque

“Tô com medo. E correndo risco de vida…tanto minha quanto de meu filho que é uma criança…e tô aqui. Vou sair da DDM tarde da noite com uma pessoa que está a solta me vigiando e perseguindo”. Este é um dos trechos de mensagem da psicóloga Aline Aparecida de Moura Queiroga, de 34 anos, enviada do interior da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) para uma colega de profissão.

Aline esperava para ser atendida na DDM, onde fora denunciar a quebra de medida cautelar por seu ex-namorado, que ateara fogo na sua motocicleta por volta das 3 horas da na madrugada de sexta-feira, 24 de maio. “Estou desde às 13h30 aqui”, comentou ela, por volta das 19h30 daquele dia.

A medida protetiva que não impediu o ex-namorado de incendiar sua moto também foi inútil para proteger sua vida. Ela foi assassinada pelo ex-namorado na terça-feira (11) por volta das 13h30 enquanto trabalhava em uma loja de tintas no centro comercial do bairro Wanel Ville. O assassino entrou armado na loja e encontrou Aline atrás do balão, disparando quatro tiros. Ela foi atingida três vezes e o quarto tiro acertou na parede. Em seguida, o acusado ameaçou um freguês no estacionamento em frente à loja e fugiu com seu carro. A Polícia Militar foi acionada às 13h40 e iniciou busca pelo acusado usando o helicóptero Águia, mas até o meio-dia desta quarta-feira (12) ele continuava foragido.

A notícia do assassinato de Aline causou indignação e medo a um grupo de psicólogas que trocam mensagens e se ajudam pelo WhatsApp. Temendo serem alvos de perseguição pelo mesmo assassino de Aline, elas pediram sigilo de suas identidades e revelaram o drama que a vítima viveu em seus últimos dias.

De acordo com as mensagens, as mulheres não podem se sentir seguras sequer no interior da DDM. “Hoje precisei (infelizmente) utilizar o serviço da DDM por questões pessoais. E eu estou impressionada com o despreparo de um dos funcionários do local, que acredito que seja um policial ou delegado, não sei ao certo”, escreveu Aline ao grupo de psicólogas.

“Enérgico em suas palavras, eu tive que pedir pra que ele diminuísse o tom de voz comigo, pois eu estava ficando completamente desconfortável… Venho passando por situações de violência que se assemelham com essa atitude. E esse comportamento só me deixou ainda mais angustiada”, relatou.

Aline explicou que se deslocou da recepção até a sala da estagiária psicóloga e a mesma não comunicou que estavam indo para o setor de acolhimento de vítimas. “Como não me encontraram no hall principal, descartaram meu B.O. A atitude deste funcionário em questão, foi de um terrível despreparo”, queixou-se.

Prosseguindo em seu relato, Aline disse que estava apenas desabafando. “Eu estou aqui exercendo meu direito e em uma situação extremamente vulnerável e fui totalmente mal atendida. É uma pena que este local de extrema importância na cidade tenha esse tipo de atendimento. É um desabafo, como eu informei estou em uma situação pessoal de extrema angústia e medo, e tive uma experiência horrível”, concluiu.

O velório de Aline está previsto para começar às 20h30 desta terça-feira na Ossel de Vila Assis e o funeral será realizado às 8h30 desta quinta-feira (13) no cemitério Santo Antônio.

Outro lado
A reportagem do Porque tentou por várias vezes contato por telefone com a Delegacia da Mulher, mas não foi atendida. Caso queira dar sua versão, o espaço está garantido.

 

mais
sobre
aline DDM feminicídio maus tratos psicólogas
LEIA
+