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Moradores denunciam obra de ponte parada e abandono da Prefeitura à Canta Sapo

Manga prometeu ponte em dois meses, mas obra não avança, gera entulho e água parada no córrego que corta o bairro, aumentando o risco de dengue

Paulo Andrade (Portal Porque)

De acordo com denúncias, Prefeitura deixa máquina inativa perto do córrego, mas as obras da ponte de concreto, atrás da moradora, estão paradas há mais de dois meses. Foto: Renata Rocha (Portal Porque)

Anunciada em 19 de abril pelo prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), a ponte que liga os dois lados de um córrego na comunidade Canta Sapo ainda não saiu das bases de concreto. Além disso, o acúmulo de terra e entulhos na calha do córrego têm causado transtornos como água parada, mau cheiro e riscos de doenças, denunciam moradores. “O prefeito veio aqui, falou que em dois meses ele ia deixar a ponte pronta e, depois, abandonou”, denuncia a moradora Cristiane Tabata Lessa, conhecida como Crys.

O córrego, que corta o bairro, é formado por braços d’água que vêm do Jardim Aeroporto e do Jardim Nova Esperança. A moradora, que conversou com o Portal Porque na quarta-feira (26), também reclama da falta de limpeza desses três córregos. Enquanto a promessa de uma ponte não é cumprida, a travessia entre os dois lados da comunidade é feita, inclusive por crianças em idade escolar, por duas pontes de madeira.

Crys, que é costureira e líder comunitária da Canta Sapo, contou ao Porque que a Prefeitura mudou as pontes de madeira de lugar dizendo que seria provisório, até a estrutura de concreto ficar pronta. “Mas o que era provisório ficou permanente faz mais de dois meses”, afirma a moradora.

Mau cheiro e dengue
A ponte que começou a ser construída pela Prefeitura possui três arcos na parte de baixo, o que colabora para que terra e entulhos obstruam o fluxo de água, que fica parada e suja de um dos lados da obra, causando mau cheiro. “Em dia de calor, o fedor aqui é insuportável e por aqui passam crianças e idosos”, afirma Crys.

Para ela, a água suja e parada pode também ser causadora de dengue na comunidade. “Estamos em época de dengue, várias pessoas aqui já pegaram a doença. Uma vizinha dessa água parada já teve dengue. Tem caso de criança que já pegou dengue duas vezes.”

Nesse ponto (de encontro dos córregos), Crys afirma: “tem dia que a água chega aqui colorida; vinda dos outros córregos. Às vezes ela vem vermelha, às vezes vem azul”. Segundo ela, ninguém da Prefeitura sabe dizer se é despejo de algum produto químico, outro tipo de poluição ou qual o motivo.

Ainda nas proximidades do córrego principal, a líder comunitária chama a atenção para o esgoto que sai de uma viela e corre a céu aberto até o leito das águas. A viela começa na Avenida Adão Pereira de Camargo e desce até às margens do córrego.

Esgoto a céu aberto
Ao perceber a reportagem do Porque no bairro, o jovem Tiago Fernandes, 28, fez questão de opinar sobre a situação da comunidade. “Essa viela tinha que ser canalizada e asfaltada. Mas nada de o prefeito fazer. Só vem aqui colocar máquina para ficar parada e dizer que está fazendo obras. Vieram aqui, colocaram postes (aponta para poste à beira do córrego), mas não tem luz. A viela é passagem de criança que vai para a escola e não tem iluminação”, afirma indignado.

Sobre a máquina mencionada por Tiago, Crys afirma que ela está parada perto da prometida ponte faz meses, “mas não faz nada”. Ela diz que, inclusive, o motorista fica no local parado. “Às vezes trazem um cascalho para cá e trocam a máquina, como aconteceu ontem (25). Mas é só aparência. Enquanto asfaltam vários lugares, aqui não atendem a gente em nada”, complementa Tiago.

Tiago mora na Canta Sapo há 10 anos. Crys, há 11 anos. Mas a costureira conta que conhece gente que mora no bairro há quase 30 anos. Ela diz que vários prefeitos já prometeram regularizar as propriedades dos moradores, “mas nenhum até agora fez nada”, afirma.

Promessas de regularização
“Inclusive o atual prefeito (Rodrigo Manga) veio aqui, em época de eleição, pegou o cadastro do pessoal. Prometeu regularizar e trazer serviços públicos para a comunidade, mas estamos esperando até agora”, conta a líder comunitária, que estima em 2 mil famílias o número de moradores da Canta Sapo.

De passagem pela estreita viela de onde vem o esgoto apontado por Tiago e Crys, a moradora mostrou um cano de dejetos que percorre parte da via, antes de ela chegar ao córrego. “Pedimos várias vezes para o Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) canalizar aqui, mas eles dizem que não podem porque a área não é regularizada. Mas essa gambiarra aqui (aponta para a tubulação) foi o Saae que fez. Quer dizer, arrumar direito não pode, mas fazer gambiarra pode, né?”, questiona Cris.

Reforma solidária
A viela em questão é a mesma que foi assunto de três reportagens do Portal Porque entre setembro e novembro de 2023. Sem ajuda da Prefeitura, Sebastião José de Oliveira, 80 anos; e sua mulher, Rosimeire Campos Oliveira, conviviam com esgoto correndo dentro da casa e sem luz elétrica. Após a reportagem, o casal obteve ajuda de uma arquiteta do Centro Universitário Facens e da ONG Canteiro Solidário.

Hoje Sebastião e Rosimeire vivem em uma casa reformada, sem esgoto interno, mas ainda com o improviso de uma tubulação pública de esgoto em frente à residência, em uma viela íngreme e não asfaltada e com o esgoto a céu aberto a poucos metros. O casal inclusive atendeu a reportagem novamente na última quarta-feira (26).

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