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Acusado de matar Aline foi localizado seguindo dinheiro e laços de amizades

Paulo Juvêncio era apegado a um grupo de amigos do bairro Mineirão e foi preso quando aguardava um emissário com dinheiro para sua fuga

João Maurício da Rosa (Portal Porque)

Prisão motivou coletiva com chefes estadual e regional da Polícia Civil em São Paulo / Foto: Luciana Ackermann / Portal Porque

Na quarta-feira (20), Alexandre, um dos irmãos de Aline Queiroga, a psicóloga vítima de feminicídio em uma loja de tintas do bairro Wanel Ville, sugeria que a polícia poderia localizar facilmente o principal suspeito pelo crime seguindo seus contatos com amigos. Apesar da brutalidade com que Aline foi assassinada, com três tiros atrás do balcão onde trabalhava, o suspeito Paulo Rodrigo Juvêncio, 43 anos, é um homem de estreitos laços de amizades em rua vizinha à de sua vítima, no bairro do Mineirão.

“Ele participa de um grupo muito unido, é só grampear os telefones”, sugeriu Alexandre, como que a ensinar a regra básica aos investigadores. Os policiais não devem revelar a receita utilizada para sua captura, mas é certo que Juvêncio foi localizado quando estava prestes a receber um emissário que traria dinheiro para ele comprar passagem no Terminal Rodoferroviário da Barra Funda, de onde pretendia fugir do Estado de São Paulo.

A prisão motivou ampla publicidade atraindo até o chefe da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Artur Dion. Ele deu entrevista ao lado do delegado Wilson Negrão, chefe da Polícia Civil na região de Sorocaba, realçando a importância dada ao evento para conter a avalanche de críticas à atuação da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Sorocaba e à instituição das medidas protetivas ou cautelares.

Profissional soldador, Juvêncio premeditou o crime, segundo amigas de Aline, pois pediu demissão do emprego alguns dias antes e cortou a longa barba com que posava nas redes sociais. Apesar das testemunhas oculares e das imagens de câmeras de segurança, ele insiste em negar a autoria do assassinato. Não demonstra arrependimento, mas, pelo contrário, frieza e raciocínio ágil para confrontar interrogatórios de repórteres e elaborar a autodefesa.

Nega ser o homem encapuzado que aparece em imagem de câmeras incendiando a motocicleta de Aline e até mesmo que seja o homem que disparou quatro tiros contra Aline, errando o quarto.  “O que você tem a dizer para a família dela que você destruiu? A família está arrasada”, questionou um repórter, ao que Paulo Juvêncio respondeu: “a minha também está”.

Como se já estivesse esboçando a defesa, diz que as imagens não comprovam que seja ele o incendiário e que não existem mensagens dele para Aline a ameaçando de morte. Ainda diz que era ela quem quebrava a medida protetiva quando o procurava e que foi ela quem tentou matá-lo, com quatro facadas nas costas.

Apesar do sucesso da prisão e da comemoração da polícia e de grande parte do público, ainda sobram críticas à atuação da DDM de Sorocaba. “Aline não seria morta se ele estivesse preso”, anota um dos seguidores do Portal Porque em sua página no Instagram.

Aline foi morta 17 dias após passar 8 horas na DDM para denunciar que o ex-namorado pusera fogo em sua motocicleta e, portanto, quebrara a medida protetiva, podendo ter decretada sua prisão preventiva.

A delegada Alessandra Silveira não deu entrevista, mas um de seus investigadores afirmou que ela pediu a prisão de Paulo Juvêncio, mas que a Vara da Violência Doméstica de Sorocaba não concedeu a tempo. O Portal Porque procurou saber o porquê da demora e foi informado pelo coordenador da Vara, Marcos Prudente de Morais, que a decretação da prisão preventiva também depende de parecer do Ministério Público.

Prudente de Morais explicou que 15 medidas protetivas têm sido concedidas por dia imediatamente após o pedido feito pela DDM, embora a lei estipule prazo de 48 horas. “Já uma informação de descumprimento (da medida cautelar), isso passa pela análise do promotor de Justiça e depois vem para decisão. O promotor pode verificar se é caso de decretar, de pedir a preventiva ou uma mera advertência ao cidadão. Esses são os procedimentos habituais. Nesse caso específico não posso falar”, argumentou.

No jogo de erros que se estabeleceu, a polícia tenta transferir a culpa para o Judiciário e este para o Ministério Público. Aline prestou queixa no dia 24 de maio e, enquanto os papeis circulavam na burocracia do Estado, foi assassinada no dia 11 de junho, véspera do dia dos namorados. Vítima de feminicídio, segundo a tese que embasará o inquérito policial.

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