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EDITORIAL

Ano Novo, prefeito velho. Mas e a Câmara?

Ainda é cedo para dizer se o PL, que sempre foi governista, irá mesmo para a oposição ou será cooptado por Manga. Mas, se o que vimos na primeira sessão do ano continuar, o prefeito pode ter problemas para aprovar seus projetos e, principalmente, para barrar as CPIs

Fábio Jammal Makhoul (Portal Porque)

Charge: Luiz Terra/Portal Porque

Assim que assumiu a Prefeitura de Sorocaba pela primeira vez, em janeiro de 2021, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) enviou para a Câmara de Vereadores um projeto de lei em que pedia autorização para emprestar dos bancos US$ 56 milhões para realizar obras. O empréstimo milionário foi o primeiro projeto de Manga aprovado pelo Legislativo e, quatro anos depois, ninguém sabe como foi aplicado este dinheiro.

Agora, o prefeito Manga inicia seu segundo mandato da mesma maneira. Seu primeiro ato foi aprovar na Câmara um projeto que pede autorização para um empréstimo de US$ 150 milhões, quase o triplo do valor de 2021 e que, na cotação atual, equivale a quase R$ 1 bilhão, 20% do orçamento anual de Sorocaba. Da mesma forma que no primeiro empréstimo, a dívida ficará para os próximos prefeitos.

Além do empréstimo, Manga também aprovou na sessão extraordinária da última sexta (3) a criação de cinco novas secretarias na Prefeitura, como 75 cargos de indicação política que devem consumir mais de R$ 20 milhões por ano. Conforme apurado pelo Portal Porque, os novos cargos servirão para acomodar a base aliada do prefeito e garantir a governabilidade.

A criação deste novo cabide de empregos, segundo ato do novo Governo Manga, não difere do que ocorreu no mandato anterior. Ao longo dos primeiros quatro anos, o prefeito criou cerca de mil cargos de confiança, sendo metade de maneira irregular. Tanto que a Justiça mandou a Prefeitura cortar 542 cargos criados pelo prefeito e destinados aos amigos.

Além de endividar a cidade e inchar a máquina pública com centenas de cargos de confiança, Manga também segue sendo o mesmo do primeiro mandato no que diz respeito às redes sociais, onde faz promessas que jamais irá cumprir. Aliás, o prefeito terminou sua primeira gestão sem cumprir as principais promessas de campanha que fez em 2020, como o Casa Nova Sorocaba e o mutirão de saúde.

Como se vê, Manga inicia o segundo mandato do mesmo jeito que governou a cidade na sua primeira gestão, marcada por acusações de corrupção e por promessas não cumpridas. O povo sorocabano ignorou todos esses problemas e lhe deu um novo mandato ainda no primeiro turno das eleições de outubro passado. Dessa forma, Manga não deve mudar o jeito de gerir a cidade.

Mas e a Câmara de Sorocaba? No primeiro mandato de Manga, os vereadores foram meros assessores do prefeito, aprovando tudo o que ele mandava para a Casa de Leis, sem questionamentos. Dos 20 vereadores que compunham a Câmara na legislatura passada, apenas três (Fernanda Garcia-PSol, Iara Bernardi-PT e Francisco França-PT) faziam oposição ao prefeito. O que significa que só 15% da Câmara não estava na base aliada de Manga.

Nesta nova legislatura que se inicia, agora com 25 vereadores, Manga encontrou na primeira sessão da Câmara a oposição de sete vereadores: além das bancadas do PT e Psol, o PL do deputado Danilo Balas passou a fazer oposição. Dessa forma, o percentual de vereadores que não estão fechados com Manga subiu para 30%, o dobro da legislatura passada.

Ainda é cedo para dizer se o PL, que sempre foi governista, irá mesmo para a oposição ou será cooptado por Manga. Mas, se o que vimos na primeira sessão do ano continuar, o prefeito pode ter problemas para aprovar seus projetos e, principalmente, para barrar as CPIs, que ele conseguiu impedir no governo passado.

A nova composição da Câmara e a correlação de forças vão ser fundamentais para moldar o novo mandato do prefeito Manga. É a firmeza dos vereadores que vai dizer se teremos a continuidade de um prefeito tik toker falastrão ou teremos um governo de verdade.

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