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Para Apeoesp, substituição de professores por IA é “absurda e irresponsável”

Entidade se posiciona contra Inteligência Artificial ser usada para gerar conteúdos de aulas em lugar de professores curriculistas

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

Proposta do governador Tarcísio de substituir professores curriculistas por inteligência artificial é vista como precarização do ensino. Foto: Freepik

O governo do Estado de São Paulo, liderado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou na semana passada que passará a utilizar a ferramenta de inteligência artificial ChatGPT para auxiliar na produção de aulas digitais destinadas a professores da rede estadual. A iniciativa marca uma mudança no método de produção do material didático, que até então era elaborado exclusivamente pelos chamados “professores curriculistas”. A decisão deixou a categoria indignada e motivou o posicionamento da Apeoesp (Associação dos Professores Estaduais do Estado de São Paulo) contra o uso da inteligência artificial para esse fim.

De acordo com a entidade de classe, a decisão de substituir professores na elaboração de aulas e materiais digitais na rede estadual de ensino de São Paulo, como pretendem o governador e o secretário estadual da Educação, Renato Feder, é “absurda e irresponsável”.

“Essa (decisão) representa uma nova e grave tentativa de precarização dos profissionais da Educação e um ataque aos direitos dos estudantes”, posiciona-se a Apeoesp em nota enviada ao Porque. Para a associação, a inteligência artificial é uma ferramenta que tem limitações, mas pode contribuir no processo pedagógico, desde que baseada em longo e refletido planejamento, para potencializar as estratégias de ensino e aprendizagem decididas e conduzidas por professores.

“Não pode substituir professores como responsáveis pela formulação de conteúdo pedagógico. Ela é meio, não fim em si mesma. Sabemos de erros cometidos pela inteligência aritificial (IA) em diversas áreas, com base em equivocadas associações de informações. A possibilidade desses erros não serem detectados causará graves prejuízos ao processo ensino-aprendizagem nas escolas estaduais. Além disso, o uso amplificado da lA poderá resultar ainda em demissões de professores. Os recursos gastos nesse tipo de inovação questionável bem poderiam ser revertidos em valorização salarial dos professores”, argumenta.

A Apeoesp diz que lutará para impedir a concretização de mais esse ataque à educação estadual, assim como lutou e derrotou a tentativa do secretário Feder de retirar a rede estadual de ensino do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), digitalizando todo o processo educativo.

Outro lado
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) planeja implementar um projeto-piloto para incluir a IA como uma das etapas do processo de aprimoramento de aulas do 3º bimestre dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Esse processo de fluxo editorial ainda será testado e passará por todas as etapas de validação para que seja avaliada a possível implementação.

Nele, as aulas que já foram produzidas por um professor curriculista e já estão em uso na rede são aprimoradas pela IA com a inserção de novas propostas de atividades, exemplos de aplicação prática do conhecimento e informações adicionais que enriqueçam as explicações de conceitos-chave de cada aula. Na sequência, esse conteúdo será avaliado e editado por professores curriculistas em duas etapas diferentes, além de passar por revisão de direitos autorais e intervenções de design. Por fim, se essa aula estiver de acordo com os padrões pedagógicos, será disponibilizada como versão atualizada das aulas feitas em 2023.  Atualmente, a Seduc-SP conta com um time de cerca de 90 professores curriculistas.
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