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Desemprego entre jovens negras é três vezes maior que de homens brancos

Elas relatam episódios de racismo estrutural e situações em que se sentiram menosprezadas em relação a outros candidatos em seleção de emprego

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

Pesquisa aponta que mulheres negras entre 18 e 24 anos sofrem racismo nos processos seletivos para o primeiro emprego. Foto: Estudo Mude Com Elas

Indicadores do relatório “Mude Com Elas”, da ONG Ação Educativa, revelam que a criação de políticas públicas e impulsionamento de iniciativas voltadas para a inclusão de jovens mulheres negras no mercado de trabalho são urgentes. Isso porque o desemprego e a discriminação ainda são os principais desafios delas.

Os números mostram uma realidade bastante desafiadora: o desemprego de jovens mulheres negras – na faixa etária entre 18 e 24 –  é de 18,3%, três vezes maior que o percentual de homens brancos (5,1%) nessa condição. Jovens mulheres negras têm ainda menos proteções garantidas pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Enquanto 44% delas têm carteira assinada, esse número passa de 50% no caso de homens brancos.

Winnie Marina Silva Pereira, de 19 anos e cursando o 3º semestre da Faculdade de Biomedicina, opina que o jovem negro, em busca de conquistar seu lugar na sociedade, muitas vezes precisa se destacar mais que os outros, porque, normalmente, para ocupar um cargo de visibilidade, sua cor ou o seu gênero acabam se tornando empecilhos. “Torna-se difícil o nosso acesso em um mercado de trabalho tão competitivo como o dos dias de hoje. 

Para ela, é inevitável dizer que existe, sim, grande dificuldade em relação a campo de trabalho e estudo para jovens e mulheres negras, já que o mercado de trabalho de forma geral exige muito de qualquer um que queira se incluir e estar atualizado dentro da  profissão desejada. “É necessário deixar explícito que ser mulher e negra me faz ser parte de duas das condições que mais sofrem impacto sobre a grande competição existente na área de trabalho e estudo no Brasil”, considera. Para Winnie, entrar numa faculdade também representa dificuldades.

Maria Clara Soares dos Santos Silva, de 22 anos e estudante de Marketing, também passa por discriminação na hora de buscar uma oportunidade no mercado de trabalho num estágio. Ela relata ter se sentido desconfortável com perguntas específicas sobre habilidades que só foram feitas a ela num processo seletivo.

Racismo estrutural
Nos processos seletivos, a discriminação também está presente em forma de racismo estrutural. Maria Clara conta que já passou por uma situação constrangedora para uma vaga de estágio de “social media”. “A moça que me entrevistou falou que se eu passasse na entrevista deveria me arrumar mais, porque eu teria que gravar vários vídeos no meu dia a dia na loja mostrando os produtos. Eu estava com uma roupa formal, fiquei meio sem graça, porque ela disse isso me olhando de cima para baixo”, relembra a estudante.

A jovem Winnie também diz que já passou por muitas situações desconfortáveis até chegar ao estágio em que está hoje. “No meu primeiro semestre da faculdade passei na primeira etapa de um processo seletivo para estagiar em uma clínica de estética renomada, em que a vaga seria para recepcionar e orientar os clientes que passariam pela clínica. Na segunda etapa, em que era necessário ir até o local pessoalmente, em uma conversa com a supervisora do estágio me orientaram a mudar a forma de como eu estilizava o meu cabelo – que na maioria das vezes se encontra com penteados afros como tranças ou cachos naturais – para que eu pudesse me encaixar no padrão da empresa. Pode parecer simples para alguns, mas é nessas situações que muitas vezes encontramos o chamado “racismo velado”, em que foi me pedido para esconder um traço da minha etnia para que eu pudesse fazer parte de um grupo.  Grandes empresas deveriam prezar pela pluralidade, inclusão e diversidade dos seres”, conclui.

Mais sobre o estudo
O relatório divulgado pela Ação Educativa também revela que o acesso ao ensino superior é menor entre as mulheres negras. Com base nos dados da PNAD, 23,4% desse perfil, com idade entre 18 e 24 anos, frequentam ou já terminaram uma graduação. Enquanto o número de mulheres brancas na mesma situação é de 39,8%.

Além disso, 10,6% das mulheres negras trabalham e estudam, enquanto 23,3% estão fora da força de trabalho e também não estudam. Considerando as mulheres brancas da mesma faixa etária, 15,4% trabalham e estudam e 15,4% estão fora da força de trabalho e não estudam.

Quando conseguem uma vaga, as jovens mulheres negras recebem menos que homens brancos. Enquanto têm salário médio de R$ 1.582, os homens brancos recebem R$ 4.270. O salário das jovens negras ficar abaixo até da renda média dos brasileiros, que é R$ 2.982.

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