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Time de atletas trans, Pogonas une paixão pelo futsal e combate ao preconceito

Equipe formada há dois anos conta com 20 atletas e sonha com ampliação para o próximo ano

Israel Moreira

Equipe Pogonas. Foto: Divulgação

O esporte tem o poder de transformação e o futebol é a chama de socializar, incluir e diversificar. Se para o futebol feminino no Brasil, que há anos vem lutando para ser reconhecido e principalmente respeitado, mesmo já existindo campeonatos mundiais e olimpíadas, o machismo no mundo do futebol ainda impede o crescimento estrutural e profissional desta modalidade, agora imaginem o futebol praticado por mulheres e homens trans?

A Associação TransAtlética e Cultural Pogonas, o primeiro time de futsal em Campinas, organizado e praticado por homens e mulheres trans, travestis e não binários vem superando as barreiras do preconceito em nome da paixão pelo futebol há dois anos no município.

“O Pogonas nasceu durante a pandemia, de um grupo criado em 2020 com a intenção de juntar pessoas trans para jogar bola no Taquaral. Esse grupo cresceu e foi agregando pessoas com diferentes experiências com o futebol, e em 10 de outubro de 2021 jogamos pela primeira vez um amistoso contra o Instituto Meninos Bons de Bola. A partir daí adotamos a data como oficial de fundação da equipe”, explica Tiago Miguel Pires de Abreu, atleta, cofundador do time e atual presidente do Pogonas. Além de Tiago, os outros fundadores são o Leonardo (atual diretor esportivo) e o Giuliano (vice-presidente).

Segundo Tiago, as dificuldades iniciais foram inúmeras, principalmente o local para a realização dos treinos. Sem nenhum tipo de recurso, a sugestão foi a criação de rifas e apoio financeiro próprio de cada um que topava participar. “Chegamos a vender refrigerantes na entrada do restaurante da Unicamp, e isso nos ajudou muito”, recorda-se.

Com o início da equipe, mesmo com a falta de materiais esportivos e até de uma bola adequada para o futsal, o Pogonas enfrentaria o seu maior obstáculo: o preconceito.

Sem apoio do poder público da cidade e ainda sem recursos financeiros próprios, a saída para iniciar os treinos foi ir às praças públicas. “Foi horrível. Sofremos todo o tipo de preconceito e transfobia. Nosso primeiro local foi uma quadra no Parque Portugal [Lagoa do Taquaral em Campinas]. Como pessoas trans, os nossos corpos chamavam muita atenção de quem estava de fora, e com isso ouvimos piadas, insultos, tiravam fotos sem autorização, ficavam rindo. Mesmo assim, não desistimos”, afirma Abreu.

Letícia Amarante é treinadora da equipe do Pogonas. Foto: Divulgação

Após meses sofrendo com a indiferença e o preconceito nas quadras do Taquaral, o Pogonas conseguiu um novo local para a prática do futsal. Um espaço próximo ao Shopping Iguatemi, área nobre da cidade, com pouca circulação de pessoas, o que, no momento, foi importante para fortalecer os laços entre os atletas e continuar a trajetória.

Atualmente, uma parceria entre o Pogonas e a Escola Estadual Professor Benedito Sampaio, no bairro Botafogo, em Campinas, vem proporcionando aos atletas treinarem na quadra da instituição de ensino, todas as segundas, quartas e sábados. Esse relacionamento entre escola e time, consiste, basicamente, no uso do local pelo Pogonas e em contrapartida, a equipe de futsal oferece intervenções educacionais, como por exemplo, grupos de estudos, conforme à demanda da escola.

“Eu, sendo professor de Matemática, já orientei um grupo de alunos que se preparava para as provas em Vestibulinho técnico. Temos psicólogos, e sempre que a escola necessita, nós a auxiliamos”, completa.

Além do futsal, o Pogonas oferece treinos de Vôlei e equipe de pedal, também para atletas trans e à toda comunidade LGBTQIAPN+. Para participar dos treinos é só entrar em contato através das redes sociais como Instagram, e mencionar a vontade de participar.

No início de 2023, a equipe organizou o primeiro Campeonato Paulista de Futsal Trans e projeta para 2024 a segunda edição, com o apoio do hub de coletivos Conexão Quilombo Amarais, presente na região do Jardim São Marcos, periferia de Campinas.

Regularmente, a equipe de futsal do Pogonas conta com 20 atletas e há previsão, também para o próximo ano, de uma chamada pública de voluntários. “A ideia é trazer mais atletas trans e apoiadores que fortaleçam em conjunto a nossa caminhada. Em janeiro, devemos iniciar o projeto de capacitação completa em comunicação e marketing para pessoas trans e LGBT’s periféricas”, finaliza Tiago.

O esporte e o futebol em especial, são ferramentas poderosas de inclusão e quebra de preconceitos e o Pogonas, está muito além das regras e práticas esportivas.

Associação TransAtlética e Cultural Pogonas
Local: Rua Dr. Delfino Cintra, 789, Botafogo, Campinas.
Futsal: Segundas e quartas das 19h20 às 21h30. Aos sábados, dás 15h30 às 17h30.
Vôlei: Aos domingos, das 9h30 às 11h30.
Entrada Gratuita.
Telefone para contato: WhatsApp – 19 97428-8963

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