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Por falta de quórum, PL da internação compulsória é adiado e Hossri ameaça manifestantes: ‘Quero os dados de todos’

Hossri deixou a tribuna sem falar com os demais parlamentares; tema pode voltar à sessão na próxima quarta-feira, dia 26

Isadora Stentzler

Irritado com os gritos de ‘fascista’, Nelson Hossri pediu os dados de todos os manifestantes presentes. Foto: Divulgação

Ao ocupar a tribuna para defender o projeto de sua autoria que prevê, entre outras coisas, a internação compulsória de dependentes químicos, o vereador Nelson Hossri (PSD) chamou de “cambada” os manifestantes contrários ao PLO 115/2019 e disse que queria “os dados de todos os presentes” após ser chamado de “fascista” pelo público, durante a sessão da noite desta segunda-feira (24), na Câmara de Vereadores.

A fala do vereador precederia a votação, mas devido à baixa de quórum, com apenas 14 presentes, o texto foi adiado mais uma vez.

Hossri deixou a tribuna sem falar com os demais parlamentares. Tema pode voltar à sessão na próxima quarta-feira, dia 26.

Fernanda Leandro Ribeiro, integrante do movimento da luta antimanicomial, analisou a sessão e lembrou que ao contrário do projeto, deve ser defendida uma política de inclusão e humanitária.

“Já é a quinta sessão que viemos fazer pressão”, citou. “Ele [projeto] é claramente inconstitucional porque fere o direito de ir e vir. É um projeto higienista. Quem será mais prejudicado são as pessoas pobres, negras e periféricas e em situação de rua. A gente entende isso como um retrocesso. As comunidades terapêuticas são manicômios. Lá existe trabalho forçado não remunerado, imposição religiosa evangélica, violência física, tortura e morte. Não da para defender que isso é cuidado e saúde”, frisou.

Minutos antes, o Conselho Regional de Psicologia emitiu uma nota de repúdio contra o PLO.

O texto foi apresentado pela vereadora Guida Calixto (PT), que pediu para que a nota fosse inserida aos anexos do projeto.

“O PL nº 115/2019 viola tratados internacionais, descumpre as resoluções e recomendações do Conselho Nacional de Saúde e de Direitos Humanos e descumpre a Lei de Reforma Psiquiátrica e a nova Lei de Drogas, descumpre decisão do ministro Alexandre de Moraes em 25/07/2023 que proíbe remoção forçada de pessoas em situação de rua por descaracterizar as finalidades clínicas e de saúde dos dispositivos de internação”, diz trecho da nota.

O texto ainda lembra que a internação compulsória “não se configura como cuidado”, mas como uma “violência” e que há alternativas junto a hospitais de referência, serviços especializados da rede de saúde e nos próprios Caps AD para tratar pessoas nessas condições.

“A internação compulsória representa uma falsa ideia de solução mágica, que leva a sociedade a aceitar medidas sem reflexão necessária. Os/As familiares são levados a acreditar que esta é a única solução para as dificuldades enfrentadas, justificando e legitimando a violência com os usuários”, esclarece.

Documento encerra pedindo pela não aprovação do projeto.

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