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Fórum Socioambiental de Campinas contesta informações sobre arborização na cidade

"Esta é uma revolução verde às avessas, pois com continuidade desse tratamento hostil ao ambiente, o que se preconiza para a cidade são eventos climáticos que poderão acirrar grandes tragédias", avalia ex-secretário de Serviços Públicos de Campinas e ex-gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ronaldo Hipólito Soares

Da Redação

Campinas é conhecida como cidade amida da natureza. Foto: Divulgação

O Fórum Socioambiental de Campinas contestou as informações sobre arborização na cidade. Iniciativas e pesquisadores que compõem o fórum da sociedade civil voltado à discussão social e ecológica indicam inconsistências e contradições em divulgação da administração como realizadora de práticas sustentáveis “exemplares” no planejamento urbano da cidade.

Especialistas e pesquisadores integrantes de iniciativas e movimentos sociais da sociedade civil de Campinas e região se manifestaram através do Fórum Socioambiental de Campinas, contestando a sucessiva divulgação de propagandas e reportagens duvidosas que a cidade celebra a condição
de cidade amiga da natureza.

Basta uma pesquisa simples no Google e a propaganda da cidade como uma cidade verde se evidencia. Durante a terceira semana do mês de junho, por exemplo, pelo menos duas matérias publicaram na Internet com informações e dados duvidosos tentavam associar a cidade a práticas governamentais que priorizam ações de preservação e sustentabilidade. As reportagens citam um indicador de 87,5% de arborização da cidade, segundo pesquisa não referenciada do IBGE e é constantemente usada em sites e veículos ligados ao setor imobiliário.

“A arborização urbana não é notícia, pois tornou-se um atributo de Campinas há muitas décadas. E o que resta de árvores em Campinas é resultado de um herança de sucessivas políticas de arborização e esforços da sociedade civil anteriores ao grupo que governa a cidade hoje. Atualmente a prefeitura está batendo todos os recordes de extração de árvores”, comenta Ari Vicente Fernandes, professor, arquiteto urbanista e ex-presidente da Fundação José Pedro de Oliveira – Mata de Santa Genebra.

Ari também comentou as aprovações de leis PL88/2023 e LC207/2018, proposta pela administração municipal e aprovadas pela Câmara de Vereadores de Campinas, que versam sobre a flexibilização da expansão urbana sobre as áreas rurais na cidade.

“Desde 1991 foram aprovados quatro Planos Diretores e, todos eles, afirmam existir espaço urbano suficiente para abrigar até cerca de 500 mil habitantes em moradias desocupadas, lotes e glebas vazias. É preciso que sejam aplicados os instrumentos legais do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) para liberar esses vazios e coibir a especulação imobiliária que insiste em mantê-los sem uso. Mas a prefeitura de Campinas não se envolve com isso e prefere ampliar o perímetro sobre a zona rural”, disse.

O Engenheiro Florestal e Agrônomo e Mestre em Arborização, Urbana José Hamilton de Aguirre Jr., que integra a ONG Movimento Resgate o Cambuí e o Fórum Socioambiental de Campinas, aponta o descumprimento das leis que são referência para a manutenção da arborização da cidade, apontando um acirramento do corte de árvores nas gestões mais recentes.

Para isso, Aguirre se referencia na Lei Municipal Lei 11.571/2003, que trata da arborização da cidade e preconiza pelo menos uma árvore a cada dez metros de calçada. “Tomando como exemplo um bairro central de Campinas, o Cambuí, onde são realizados estudos a cada cinco anos, entre 2007, quando já havia um déficit de pelo menos 6.200 árvores no bairro, e 2017, ano em que houve uma drástica redução de árvores de grande porte no bairro, e quando houve reposição, a substituição foi feita por plantas arbustivas e de pequeno porte. Se isso acontece em um bairro central considerado um bairro rico da cidade, podemos imaginar o que acontece nos bairros afastados do centro, que não figuram entre os cartões postais da cidade”, afirmou.

O ex-secretário de Serviços Públicos de Campinas e ex-gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ronaldo Hipólito Soares, chama atenção para as contradições entre os títulos e celebrações divulgadas indevidamente e as medidas tomadas pela prefeitura da cidade, apoiada pela maioria do Legislativo de Campinas, que resulta na redução das condições para a preservação e mitigação das chamadas emergências climáticas na cidade.

“Esta é uma revolução verde às avessas, pois com continuidade desse tratamento hostil ao ambiente, o que se preconiza para a cidade são eventos climáticos que poderão acirrar grandes tragédias para a cidade, tais como eventos anteriores acontecidos em Petrópolis, em Angra dos Reis, em São Sebastião, no Rio Grande do Sul e tantos outros lugares”, finalizou.

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