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Câncer de colo de útero é maior em mulheres indígenas do que em não indígenas, revela estudo da Unicamp

Lesões de alto grau, com maior probabilidade de evoluir para câncer, foram encontradas de três a quatro vezes mais em mulheres indígenas, sugerindo problemas na atenção básica

Da Redação

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O câncer de colo de útero, embora prevenível, ainda representa uma ameaça significativa à saúde feminina no Brasil, sendo a quarta maior causa de mortalidade por câncer entre as mulheres. Entre as populações indígenas, a vulnerabilidade a essa doença é ainda maior, como revela uma pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O estudo reuniu dados de mais de 30 etnias indígenas e analisou 3.231 exames preventivos de Papanicolaou realizados por mulheres desses grupos entre 2007 e 2019. Estes dados foram comparados com 698.415 testes de mulheres não indígenas coletados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na região de Campinas nos anos de 2007, 2011, 2015 e 2019. As informações foram fornecidas pelo Laboratório de Citologia (Labcito) do Caism – Hospital da Mulher Professor Dr. José Aristodemo Pinotti da Unicamp.

A pesquisa, conduzida pela médica Iria Ribeiro Novais e orientada pela professora Diama Bhadra do Vale, revelou que mulheres indígenas apresentam uma maior frequência de lesões pré-cancerígenas em diferentes faixas etárias. Lesões de alto grau, com maior probabilidade de evoluir para câncer, foram encontradas de três a quatro vezes mais em mulheres indígenas, sugerindo que o atual programa de rastreamento através do Papanicolaou não é eficaz para proteger essas mulheres.

A hipótese das pesquisadoras é que, embora as mulheres indígenas recebam o diagnóstico, elas enfrentam dificuldades para acessar o tratamento devido a barreiras geográficas e culturais. As pacientes são referenciadas para atendimento em zonas urbanas, muitas vezes se deslocando com suas famílias e esperando meses pelo tratamento. Além disso, o desconhecimento sobre a doença leva essas mulheres a priorizar outras demandas familiares.

Iria, que é médica voluntária na organização Expedicionários da Saúde desde 2010, participou das coletas de citologia durante campanhas na região amazônica. Observando a discrepância nos exames de mulheres indígenas e não indígenas, ela percebeu a necessidade de analisar os dados em maior profundidade.

Os achados do estudo indicam a necessidade urgente de políticas de saúde específicas para mulheres indígenas. Diama destacou a importância de o sistema de saúde agir proativamente para buscar essas mulheres, similar ao que ocorre no Território Indígena do Xingu, garantindo que aquelas com lesões precursoras sejam tratadas rapidamente. Além disso, foi recomendado ampliar a faixa etária da vacinação contra o HPV entre as mulheres indígenas, visto que a exposição ao vírus é maior em idades avançadas nessa população.

O estudo foi premiado na quarta edição do Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Unicamp – Instituto Vladimir Herzog.

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