
André Tolentino é advogado, escritor, palestrante e consultor empresarial. Recentemente, lançou o livro “Direito Civil e Processual Civil” e foi um dos coordenadores da coleção “Serviços Jurídicos”, da Editora Rideel.
Recentemente, o deputado Eduardo Bolsonaro afirmou que está sendo perseguido no Brasil e que pretende buscar refúgio nos Estados Unidos. O que ele chama de perseguição, no entanto, não passa do funcionamento normal de um Estado Democrático de Direito, onde todos, independentemente de sobrenome ou influência política, devem responder por seus atos.
A ironia dessa narrativa é gritante. Eduardo Bolsonaro e seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, jamais esconderam suas admirações pela ditadura militar e pelos seus protagonistas mais cruéis. Ambos prestaram inúmeras homenagens ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, um homem condenado pela Justiça por seus crimes. Ustra não apenas torturava, mas também violentava mulheres, incluindo gestantes, e cometia atrocidades que marcaram uma das páginas mais sombrias da história do Brasil. E agora, aqueles que exaltavam os opressores se dizem vítimas?
Se querem falar em perseguição, olhem para Alexandre Vannucchi Leme, estudante sorocabano da USP, brutalmente torturado e assassinado pelo regime militar que a família Bolsonaro tanto defende. Alexandre, católico, brilhante, sobrinho do professor Aldo Vannucchi, reitor e fundador da Uniso, foi alvo da verdadeira perseguição política. Diferente de Eduardo Bolsonaro, que dá entrevistas em podcasts, tem milhões de seguidores e espalha suas críticas sem restrições, Alexandre teve a voz silenciada de forma definitiva.
Hoje, o Brasil vive uma democracia plena, onde até mesmo os que a atacam e a desrespeitam podem usufruir de suas liberdades. Eduardo Bolsonaro e sua família não são perseguidos; ao contrário, fazem uso constante dos espaços democráticos para propagar suas visões distorcidas.
E é exatamente por isso que se torna cada vez mais urgente que as escolas ensinem sobre os horrores da ditadura militar. Os jovens precisam compreender os erros do passado para que possam interpretar o presente e construir um futuro melhor. A história não pode ser apagada ou reescrita por aqueles que se dizem perseguidos enquanto ocupam os mais altos cargos da República e manipulam massas com discursos vazios.
A liberdade que Eduardo Bolsonaro tem hoje para falar é um privilégio conquistado com o sangue de verdadeiras vítimas do autoritarismo. O que ele faz com essa liberdade, no entanto, é uma escolha que cabe apenas a ele.
* André Tolentino é advogado, escritor, palestrante e consultor empresarial. Recentemente, lançou o livro “Direito Civil e Processual Civil” e foi um dos coordenadores da coleção “Serviços Jurídicos”, da Editora Rideel.